sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

DA ALOPATIA À HOMEOPATIA (continuação)

Terminei o texto anterior com uma breve introdução sobre o Vitalismo. Irei retomar essa explicação e tentar mostrar como ele se difere do paradigma mecanicista.
O Vitalismo é o suporte filosófico da Homeopatia. Segundo o Dr. Galvão, o Vitalismo entende que a vida é o resultado da ação sobre a matéria de algo extrínseco a ela, de natureza energética ou não material, mas que se observa existir no ser vivo e não existir no não vivo, sendo esse “algo extrínseco” condição necessária à manutenção da vida. Podemos, portanto, chama-lo de Energia ou PrincípioVital. Encontra-se presente em todo o corpo, até nas unhas, pêlos e cabelos, distribuído por todas as sensações e funções.
No Vitalismo, o funcionamento dos componentes mecânicos (tendões, articulações, por exemplo), hidráulicos (vasos, sangue, linfa), elétricos (impulsos nervosos), bioquímicos (interação de um hormônio ou íon no receptor da membrana de uma célula, por exemplo) dos seres vivos, no estado de saúde ou de adoecimento, é conseqüência da expressão do Princípio Vital, ou seja, este último manifesta-se por meio dos elementos físico-químicos do organismo.
Nesse ponto, encontramos uma divergência entre o Vitalismo e o mecanicismo. Como já foi dito no primeiro texto, sob o prisma do mecanicismo, o organismo nada mais é que um complexo arranjo de sistemas mecânicos, hidráulicos, elétricos, etc. Todos os fenômenos da vida se resumem às manifestações físico-químicas, e, no estado de doença, é simplesmente esse arranjo que está funcionando fora de padrões generalistas (valores de referência de exames), sem considerar algo mais profundo, hierarquicamente superior a essa desarmonia.
Por outro lado, o Vitalismo leva em consideração, prioritariamente, o Princípio Vital para explicar os fenômenos que ocorrem em seres vivos nas ocasiões de saúde e de doença, sem reduzi-los apenas e exclusivamente à esfera da bioquímica.
A filosofia vitalista é quase tão antiga quanto a Medicina. Surgiu quando os mais antigos filósofos se preocupavam com a origem, destino e funcionamento dos organismos. A manifestação da vida era motivo de reflexões, observações e experimentações, por meio das quais se pôde (e se pode até hoje) perceber, sentir e reconhecer o Princípio Vital.
As mesmas constatações estavam presentes em diversas civilizações antigas sem que houvesse influência de uma sobre a outra. Entre os chineses, por exemplo, encontramos o conceito de Ch’i, que significa “gás ou éter” e denota o sopro vital, ou energia que anima o cosmo. Na Grécia Antiga, entre os pré-socráticos, havia o predomínio da visão vitalista na concepção de natureza, assim como nas declarações de Tales de Mileto, Anaximandro também de Mileto, Anaxágoras e outros.
Posteriormente, Hipócrates, conhecido como o pai da Medicina, nascido em 460 a.C., sintetizou essas idéias vitalistas que foram sendo, ao longo dos tempos, reconhecidas também por Sócrates, Platão, Aristóteles, Plotino, Santo Agostinho, São Tomaz de Aquino, Paracelso e muitos outros.
Mas foi no século XVII, na França, que Barthez apresentou um conceito de Princípio Vital , que seria “a causa que produz todos os fenômenos da vida no corpo do homem”. Por esse conceito observamos a idéia de unidade e individualidade do sistema fisiológico, tão fragmentado dentro da lógica mecanicista. Essa mesma idéia é compartilhada pelo Sistema Homeopático.
Por fim, todo esse contexto serviu como base para que Samuel Hahnemann (1755-1843), médico que sistematizou a Homeopatia, formalizasse as bases vitalistas do seu novo sistema médico.
O vitalismo de Hahnemann pode ser claramente observado no parágrafo 9º da sua obra “Organon da Arte de curar”:
“No estado de saúde, a força vital de natureza imaterial (autocracia), que dinamicamente anima o corpo material (organismo), reina com poder ilimitado e mantém todas as suas partes em admirável atividade harmônica, nas suas sensações e funções.”
Completando o raciocínio no parágrafo 11º: “... É somente o Princípio Vital, perturbado por uma determinada anormalidade, que pode fornecer ao organismo as sensações desagradáveis e impeli-lo a atividades irregulares às quais chamamos de doença.” Na prática, isso significa que, quando um ser vivo adoece, por exemplo, de gastrite, antes de o estômago estar afetado, quem está doente é a sua Energia Vital.
Considerando o Princípio Vital no processo de saúde e doença, é sobre ele que o médico, ou o veterinário, deve agir, porque somente dessa forma ele estará agindo efetivamente na causa da doença e conseguirá enxergar o individuo como um todo, com suas peculiaridades - o que também acaba sendo essencial para uma cura completa - e não apenas como uma soma de partes. Assim é na Homeopatia.
Quando não fazemos isso, quando queremos apenas localizar uma doença e corrigi-la bioquimicamente estamos apenas impondo ao Princípio Vital a necessidade de deslocar a doença para outro órgão, dentro do tempo e das possibilidades constitucionais de cada ser.
É fundamental que essas diferenças sejam esclarecidas quando passamos a procurar um tratamento homeopático, tanto para nós quanto para nossos amigos bichos, pois estamos muitas vezes e involuntariamente mergulhados em um paradigma mecanicista. Precisamos sair dessa ótica e observar a realidade com mais liberdade de escolha.

15 comentários:

  1. Olá, gostaria de saber se existe algum remedio homeopatico para pulgas? ja levei em varios veterinários e utilizei varios medicamentos e venenos e nada resolve, obrigado!

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  2. Olá Marcus Vinicius!
    Obrigada por sua participação!
    Segue um post mais ou menos sobre isso http://homeopatiaveterinaria.blogspot.com/2010/03/tratamento-contra-pulgas-em-neonatos.html
    E não existe um medicamento, mas medicamentos que podem servir ao caso, pois as pulgas só indicam que o animal está com a doença fixada na pele, deixando-a vulnerável aos ectoparasitas. De qualquer forma é necessário passar o animal em consulta para avaliação do estado dele!
    Abraços!

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  3. Quem é Dr Galvao ? O cao diabético pode ser tratado com homeopatia?
    só o medico veterinario homeopata pode receitar remédio homeopático?Homeopatia trata cinomose? poderia nos dar uma bibliografia do texto acima? o homeopata pode atuar com o alopata?

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  4. Dr. Galvão é o fundador do Grupo de Estudos Homeopáticos de São Paulo, do qual fazemos parte, estudioso de Hahnemann e médico brilhante.
    Cão diabético pode ser sim tratado pela homeopatia, já que se trata de uma doença crônica verdadeira. O ideal é que apenas o médico veterinário homeopata trate animais, mas não existe legislação para isso. Sim, homeopatia trata cinomose. Vou pedir a fonte dos textos para a autora e passo aqui.
    Homeopatia e Alopatia são medicinas antagônicas, por isso não devem caminhar juntas como conduta. Existem casos como epilepsia onde o animal está usando gardenal, não é possível retirar o medicamento abruptamente, então o procedimento é diminuir a dose gradualmente até, se possível, retirar o medicamento.

    Obrigada pelas perguntas!

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  5. Obrigado Alessandra por seus eclarecimentos!

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  6. Um pouco confuso este texto,mas a iniciativa é otima!

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  7. Último Anônimo, caso tenha ficado confuso pra você, fique à vontade para perguntar :)
    Obrigada pela participação!

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  8. Sobre a bibliografia: Revista Similia principalmente

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  9. bom artigo ,talvez a autora e os leitores do blog gostem deste http://www.scielo.br/pdf/physis/v17n3/v17n3a03.pdf
    Além do mecanicismo e do vitalismo: a
    “normatividade da vida” em Georges Canguilhem

    abraços !!

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Anônimo, nós também podemos publicar artigos de próprio punho, sem termos uma referência em uma bibliografia estritamente formal. Especialmente em um blog.

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  13. Olá, existe tratamento homeopático para cinomose no estado nervoso?

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