quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Contágio da Ignorância

Tive a oportunidade de ir ao cinema essa semana. Assisti um filme chamado Contágio, que é um bom filme, mas poderia ser melhor se não fosse por alguns detalhes que retiram um tanto da sua credibilidade. O texto a seguir conta algumas passagens do filme para poder comentá-las, e não é aconselhável a leitura se você deseja ver o filme e não gosta de saber o final antecipadamente.

O filme se baseia na ideia que ganhou força recentemente de um vírus mutante causando uma epidemia de grandes proporções na humanidade. Este vírus teria uma mistura genética de outros vírus, causando uma combinação peculiar capaz de atingir uma alta propagação e mortalidade em um tempo extremamente curto. Já houve doenças terríveis na história da humanidade, como o peste negra e a gripe espanhola, é provável que um dia este fato se repita.

O filme tenta manter um ar de verossimilhança, com uma grande quantidade de informações médicas e termos técnicos. O problema é que no momento de concluir o filme, tudo isso se perde. Os protagonistas desenvolvem uma vacina em menos de quatro meses, o que é absolutamente inviável. Mesmo com a premissa do filme, de evitar uma parte dos testes com uma decisão arriscada, a inoculação na própria médica que a desenvolve, ainda assim o prazo foi quimérico. Também é ignorado o fato de que toda vacina tem uma janela imunológica, ou seja, um prazo para que começe a gerar a suposta imunidade. É por isso que, mesmo na Alopatia não vemos tratamentos com vacinas, somente prevenções.

Em outros momentos, o filme traz um jornalista que questiona a veracidade das informações da OMS e dos governos, indicando alternativamente um medicamento chamado forsítia. Mais adiante, citam que este agente seria homeopático (o que eu não consegui confirmar, talvez exista este medicamento nos E.U.A.). Segue próximo ao término do filme que o jornalista em questão estava enganando as pessoas e lucrando com isso. A situação não criticou diretamente a Homeopatia, mas estimulou um desentendimento e um preconceito, desnecessariamente. Se quem quer que seja pensa que o objetivo final dos homeopatas seja lucrar, precisa rever seus conceitos. Com certeza é o de alguns, e existe tanto charlatanismo na Homeopatia quanto na Alopatia. Mas o mercado de Homeopatia gera menos lucro nos E.U.A. do que o mercado de esmaltes para unhas gera no Brasil, uma economia indiscutivelmente mais fraca.

Mesmo considerando ser um filme, é necessário alguns cuidados, pois o público leigo não tem conhecimento destas limitações de técnica. Ao tentar manter a ligação com a realidade, o filme pode dar uma aparência enganosa do que seja a medicina. Mais importante, deve-se ter cuidado sobre o que se fala, para não incorrer no risco de gerar preconceitos na população, um erro grave quando se é um formador de opinião, como os produtores do filme. A não ser, é claro, que tal associação tenha sido proposital...

2 comentários:

  1. O remédio citado "Forsythia" é na verdade uma planta (bem popular, encontra-se em parques e em quintais brasileiro e em todo o mundo, conhecida tambem como Sino Dourado).

    Realmente existe um tipo de remédio que é produzido pelos chineses a partir da fruta da espécie "Forsythia suspense", tem como propriedades curativas: desintoxicante do sangue, para febres, dores de cabeça e infecções virais.

    É conhecido na China pelo nome de "Lian Qiao".

    O herbalista e autor James A. Duke, PhD, escreve em "A Farmácia Verde", que forsythia, madressilva e erva-cidreira (Melissa officinalis) tem ação comprovada como compostos antivirais. Ele recomenda preparar um chá de todas as três ervas para infecções virais, como gripes e resfriados. O chá é mais eficaz quando tomado no primeiro sinal de uma infecção viral.

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  2. Legais as informações! Entretanto, dessa forma descrita, temos um medicamento fitoterápico e não homeopático. Como o André disse, a não ser que nos EUA eles usem a planta dinamizada (processo pelo qual se produz um med homeopático) e em altas potências como detalhado nos livros: Organon e Doenças Crônicas de Samuel Hahnemann, não se trata de homeopatia.
    Justamente a confusão que se tem feito em torno da denominação Homeopatia leva a esse tipo de erro em livros e filmes já que quem escreve ou produz não tem tanto tempo para perceber o material que utilizam e o fato é que a grande maioria do que é dito homeopatia no mundo hoje, não o é.
    Isso é comum em filmes e novelas, como por exemplo, quando mostram o parto de qualquer mulher, em qualquer lugar, tratando o filme/novela de qualquer assunto, como sendo deitada e gritando como uma louca... São os mitos sociais, infelizmente, que funcionam como fonte de informação, infelizmente (2).

    Obrigada pela participação :)

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